segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Narrativas do Fato, mesa de livro-reportagem

Estou acompanhando a mesa de discussão Narrativas do fato: crescimento do mercado de livros-reportagem, com Klester Cavalcanti, Sérgio Vilas Boas e Cassiano Machado, que começou às 17h30 no auditório do CCE. É a VIII Semana do Jornalismo, gente! Transmissão online pelo site da Semana.

Destaques:


- Sérgio Villas Boas

As tendências atuais de consumo de livros estão para a não ficção. As pessoas estão percebendo o quanto é insuportável a quantidade de coisa irreal que se publica, de ficção, por isso se agarram em coisas reais.

- Minha pergunta para o Sérgio: A que você atribui essa busca do público por publicações mais realistas ao invés da ficção?
Só posso estimar que acho que hoje em dia tá muito difícil a gente ser a gente mesmo, há uma homogeneização de consumo, de cultura. Se incentiva o consumo mais do que você pode consumir. É muito mais difícil achar gente que diga: Chute o balde. A ficção deixou de ter apelo forte, porque as pessoas estão procurando o que explique o real.

O Brasil ainda está ruim no quesito livro de viagem. Falta aquela forma antropológica, cultural de se descrever os lugares.

Para se fazer bom jornalismo literário:
1. É preciso selecionar os personagens que tem conteúdo. Pessoas que pensam e agem diferente da multidão. Elas precisam ter uma atitude diferente em relação às outras pessoas.
2. Tem de ter um senso de síntese. Não há espaço ilimitado para escrever nem mesmo no jornalismo literário.
3. Valorizar sua presença em campo. Se você está em campo, tem de ter diferencial. Sua matéria não pode ser como se fosse feita por telefone. O tratamento literário dá prá se trabalhar, mas a falta de boa apuração em campo não dá prá trabalhar.


-
Klester Cavalcanti
Eu tenho uma tendência a não me acomodar, quando vejo que tá bom demais, eu procuro mudar.
Um trabalho prá ter esse carimbo de livro-reportagem tem que ter nomes reais e datas. Se o leitor não puder, ele próprio, checar o conteúdo do livro, prá mim não vale. É uma negociação dura com os entrevistados. (Klester escreveu o livro O nome da morte, sobre a vida de um assassino profissional que em 35 anos de carreira matou 493 pessoas)
Citando Garcia-Márquez: "A boa reportagem coloca o leitor no local dos fatos". Tem de ser tudo muito bem checado e apurado, nem um grau fora da verdade.

Não fui parcial ao escrever o livro (O nome da morte), eu botei tudo como era, a frieza dos assassinatos e o assassino como pessoa, homem de família. As pessoas se confundem ao ver que o assassino também tem sentimentos, chora, reza, o Júlio Santana matava friamente, mas ele se sentia um instrumento. Se não fosse ele seria outro pistoleito.

Dica para os iniciantes: Ler coisa boa. Como tudo na vida, você só consegue escrever bem se for um bom leitor. Se você não tem curiosidade em saber como é o outro, o que ele sente, não dá.

Klester chutou o balde: Kapuszinski é picareta. Seu livro, O Império, que é considerado referência em livro-reportagem, tem coisa inventada, é mal escrito. Mas, como ele vem de fora, todo mundo acha bom.


- Cassiano Machado
No mercado editorial, um dos fatores positivos para a publicação de livros-reportagem aconteceu em 2002 quando a Cia das Letras lançou uma série. Outro fator foi a criação da Academia Brasileira de Jornalismo Literário e a fundação da revista Piauí em outubro de 2006. Eu sinto que o livro-reportagem, em geral, são muito pouco inventivos.

Os temas são repetitivos. Interessa mais como a pessoa contou a história, não o tema. Ele cita O livro amarelo do terminal de Vanessa Bárbara, e Santo sujo de Nélson Werneck, como exemplos de bom livro.

As pessoas acabam trabalhando mais por paixão que por dinheiro porque nosso mercado não tem capacidade de bancar esse tipo de jornalismo.

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