quinta-feira, 7 de julho de 2011

Apaziguando ânimos na Bolívia - Guia do Mochileiro Foca

No post anterior eu disse que ia contar sobre como apaziguei uma discussão num ônibus na Bolívia. Foi uma história muito engraçada que se passou em Uyuni, logo após atravessar o deserto em três dias de jipão no meio do nada e perder uma das minhas três mochilas na empreitada.

Eu havia conseguido a última passagem no ônibus diário que ía para Sucre, capital original da Bolívia. Bem, não era exatamente um ônibus, era um micro, com bagageiro no teto, do lado de fora, e a última passagem era no último banco (que não reclina) na janela. Detalhe: Janela quebrada com um frio em volta de cinco graus negativos para uma viagem à noite.

Depois de acomodar minha mochila maior no meio do corredor por medo de perdê-la naquele bagageiro medonho, sentei-me acomodando a mochila menor aos meus pés. O banco não reclinava porque logo atrás estava a parede do fundo do ônibus. Eram quase sete da noite e as pessoas estavam se acomodando nos lugares.

Eu, já sentadinha, conversava com uma dupla de brasileiros de Minas que também estavam de mochila pela Bolívia quando duas senhoras chegaram. Elas estavam usando o traje típico de chola, que as mulheres mais tradicionais usam no dia-a-dia. Uma, justamente a mais gorda, sentou-se ao meu lado e eu previ a situação do atum enlatado durante toda a viagem. A outra viu que seu lugar estava ocupado por um senhor de idade e disse a ele: "Caballero, estás en mi asiento".

O senhor insistiu que aquele lugar era dele e a senhora insistia que ele devia ir para o lugar dele, que logo se viu, era uma polrona ao lado. Acontece que o senhor era aparentemente afetado por algum tipo de esclerose devido à idade e não se dava conta de que o número que estava da passagem não correspondia ao de sua poltrona.

Em poucas frases, a discussão estava formada: Senhora chola teimosa e brava X Senhor esclerosado. E os outros passageiros começaram a tentar intervir, desastrosamente, pois ninguém tinha se dado conta ou não tinha paciência em lidar com um senhor esclerosado. Até então eu estava quieta no meu canto. Achei que se metesse meu bedelho poderia causar mais problemas porque eu era apenas uma mochileira que se metia na discussão entre dois bolivianos de idade.


O negócio foi evoluindo e logo o ônibus parecia um estádio, com os passageiros urrando a cada vez que o senhor se negava a sair do assento em que ele estava. No último urro, bem sonoro, me levantei e com minha voz nada baixinha comecei a tentar convencer o senhor a ir para o assento certo da minha forma (em castelhano, mas aqui vou botar em português o que eu disse):

- Senhor, tenho certeza de que é melhor para o senhor ir para aquele assento, porque ele é mais confortável que este que o senhor está sentado.

O senhor me olhou com uns olhinhos que mudaram da incompreensão vaga para a concordância e trocou de assento. Os passageiros urraram de felicidade pela questão resolvida e a senhora chola me agradeceu sentando finalmente em seu assento comprado.

Pronto, um final feliz. Pela paciência e tolerância. Ainda vou contar outras histórias das muitas que tenho nessa vida que Confieso que he vivido. [+]

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