sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dia de ¡Paro! Leve sua máscara

Logo que Camila e eu saímos da estação de metrô, vimos todo o aparato repressivo dos carabineros a postos. Sacamos as máquinas fotográficas e seguimos para a praça Paseo Bulnes, onde a multidão já se aglomerava. Havia uma enorme bandeira do Chile entre os prédios do governo.




Em Paseo Bulnes estava tudo seguindo na maior paz. Tinha até música. Eram manifestantes de todos os setores, funcionalismo público, médicos, professores, estudantes, operários, comerciantes, que entregavam panfletos e exibiam suas faixas e reivindicações.
Até que, bem perto da gente, um grupo de pessoas com pano preto no rosto e uma bandeira anarquista começou a apedrejar uma fámacia na esquina. Era da Cruz Verde, uma das três redes de farmácias que tramaram a Colusión, um cartel para combinar os preços de vários remédios.

Corremos para registrar o incidente e os vândalos foram descendo a rua derrubando as grades de proteção, placas, tudo o que viam. Corremos para tirar fotos também. Dada minha inexperiência as fotos não saíram muito boas, fiquei com receio de chegar muito perto da confusão e acabar tendo minha câmera atingida por alguma pedra voadora.










De repente um barulho de bomba lançada, uma sirene e a multidão começa a correr. Nessa hora, tive mais medo de ser confundida com um manifestante e acabar indo presa (se um intercambista é preso, não tem conversa, é deportação no mesmo dia) que qualquer instinto de repórter. Pernas prá que te quero, gritei prá Camila: Corre! Corre!!! E desatamos a correr pro outro lado. Quando olhei prá trás vinha vindo um caminhão lançando água. Água? Antes fosse! Era gás lacrimogêneo.


Pimenta nos olhos dos outros arde mesmo!


Corremos pra longe do caminhão, mas logo veio outro lançando mais gás, corremos pro outro lado, mas já sentíamos o efeito. Olhos, nariz, boca, garganta, tudo ardendo. O gás é eficiente, a multidão debandou depressa. Quem recebe o jato mais de perto, tem problemas para respirar, enxergar, alguns até desmaiam. Seguimos olhando tudo meio de longe, mas ainda na Paseo Bulnes. O pessoal da imprensa sacou suas máscaras de gás e continuaram a cobertura.

Sem máscara, só com lencinhos de papel para aliviar o efeito do gás fomos chegando perto de uma das filas de carabineros que se formaram em todos os lados. Um deles espirrou e os outros o olharam de uma forma muito engraçada. Eles estavam sem máscaras. Não sei se têm um antídoto, mas fora o que espirrou, não vi mais nenhum sentindo os efeitos do gás. Em pouco tempo, os carabineros se posicionaram estrategicamente de forma a controlar toda a praça.
Resolvemos dar a volta por trás para ver o que rolava no La Moneda. Ao sair da Paseo Bulnes, mais resquícios de gás. Uma menina com uniforme de colegial estava no chão desmaiada, os amigos, pedindo ajuda, tentavam reanimá-la. A cena foi chocante, eles pediam ajuda pros carabineros que olhavam impassíveis. Estava tão preocupada com o gás que perdi a foto. Logo os carabineros formaram fila para evacuar a rua e a menina foi reanimada e levada pelos amigos para outro lugar.
Os comerciantes com as portas fechadas reforçavam as entradas. Saímos pela rua dos livros e vimos muita gente chupando limão para aliviar o efeito do gás. Tinha até um vendedor anunciando limões, hehe. Na Alameda mais carabineros. Eles cercaram os quateirões que antecedem o La Moneda. Passamos por eles e vimos o pessoal da imprensa com os caminhões de transmissão e mais carabineros que gente. Ainda voltamos para Paseo Bulnes, mas a manifestação já havia dispersado. Pelo menos 21 presos. Um jornalista ferido. Alguns danos materiais.

Veja o slideshow com fotos e áudio do jornal La Tercera

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