domingo, 11 de outubro de 2009

O tempo cansa

Ela já fez de tudo nessa vida. Anda com dificuldade e já não pula muros nem corre para advertir a chegada de visitas. Treze anos de cachorrice, 91 na comparação com a idade humana ( x 7). Nina morou na rua, num carro, numa mecânica, teve doença do carrapato, bernes na testa, nove filhos, que eu saiba. Hoje vejo a Nina e entendo que o tempo cansa. Os treze anos intensos de sua vidinha lhe pesam nas patas já cansadas.

O pêlo caramelo está todo ponteado de branco, os enormes olhos de amêndoa sempre vivos, sempre alertas, apesar do cansaço. Para facilitar sua locomoção, Nina e Frida, sua filhota e companheira de canil, foram passadas para a parte da frente da casa. Antes isso não era possível porque as duas brigavam com a Laila, nossa boxer, mesmo através das grades. Agora isso não acontece mais.

Laila olha silenciosa o caminhar lento da Nina. Parece também entender que o tempo cansa. De dentro de seu canil ela acompanha os meus passos estimulando a Nina a se movimentar, o grande olhar tristonho, num silêncio incomum. Frida parece não entender a fragilidade da mãe, parece esperar que a qualquer momento ela volte a corre e pular, cavar os túneis pelo canil. Ela só percebe que não é bem assim quando dá o alarme, latindo, para avisar que a mãe caiu em um de seus túneis.

Nina é forte, tem um espírito jovem, livre, audaz. Um dos cães mais inteligentes que já vi. Passa pelo cansaço do tempo sem se queixar, com aquela capacidade que admiro tanto nos cães, o estoicismo, ignorar a dor e as condições adversas como se fossem insignificantes perto da alegria de viver, de estar ao lado de sua família.

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