sábado, 17 de abril de 2010

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Tá lá, mais um corpo estendido no chão. O lençol branco por cima diminui o choque da cena que aconteceu há poucos minutos. É na rua Delminda Silveira, a poucos metros da Casa do Governador. O ônibus que bateu com a moto está parado com o pisca alerta ligado. Outros dois ônibus que vinham na outra pista também pararam, não podem passar.

Os faróis ligados de um dos ônibus iluminam a cena, o motoqueiro caiu e ficou bem no meio da pista. A moto, pouco danificada, um pouco adiante. Moto bonita. O rapaz, seja quem for, não era motoboy ou entregador. Era alguém que morreu na contramão.

O ônibus pára e o motorista diz a todos que vai demorar. Os dois lados da pista bloqueados. A polícia mantem a ordem. Ao meu lado, no ônibus, uma senhora espia o corpo: "Ai que horror! Esse trânsito é mesmo um perigo", diz enquanto come pipoca. A cena soa surreal. Como se estivesse numa tomada externa no fim do filme alheio.

Morreu, como todos morrem no final de suas vidas. A vida segue. São 22h29. Às 23h sai o ônibus prá Imbituba. Se não precisasse cuidar dos cães no fim de semana, dava meia volta e desistia de ir. O Lucas também precisa ir prá Imbituba, trabalhar. Ele pergunta o que fazer. Não sei, respondo.

Táxi, outro ônibus. Nunca tem um táxi onde a gente precisa de um e nesse horário os ônibus não são tão frequentes. De qualquer forma, a principal via deles está parada. É naquela rua, onde jaz o rapaz da moto. Ligo para meu pai.

Ontem pela manhã minha mana, a Mafas, se separou de suas amígdalas para sempre. Já estavam brigando de forma crônica e então, o desquite foi inevitável. Para acompanhá-la nesse momento importante, mami e papi foram a Floripa - onde o divórcio foi feito cirurgicamente - e estão passando o findi com ela.

Coincidência demais o pai estar em Floripa na única vez que algo me impede de chegar até o ônibus em quatro anos que faço esse trajeto na sexta à noite. Antes de sair do ônibus pergunto aos outros passageiros se há mais algum estudante da Associação de Imbituba. Não há. Vamos a pé até a rótula do CIC, onde o carro do pai aparece para nos pegar.

Em minutos chegamos na rodoviária, a segunda parada do ônibus que sai do CEFET, na Mauro Ramos, onde outros estudantes já estão esperando. Vida segue.

Nenhum comentário: