terça-feira, 28 de julho de 2009

Tour Salar de Uyuni - três dias no meio do nada

Quando saímos de San Pedro, no sábado, dia 25, estávamos em 28 turistas pela Agência Atacama Mística. Saímos em um microônibus enquanto toda a bagagem ía em uma van. Paramos na aduana chilena, onde encontrei um grupo de uns 30 brasileiros que viajavam juntos. A bandeira de Santa Catarina colada no abrigo que usavam como uniforme me animou a perguntar se eram de Floripa. Eu puxei assunto em português e parecia que há séculos não falava.

É uma sensação muito estranha. Fui falando devagar, entranhando minha própria língua, tinha de pensar para encontrar as palavras. O grupo era de Joinville e estava na estrada percorrendo de ônibus vários países da América do Sul. Cada país que visitavam ganhava uma bandeirinha nos abrigos.

Os trâmites chilenos foram demorados. Apresentei meus papéis e meu RUT com o passaporte e como meu visto ainda tinha validade para mais três semanas, foi carimbado de forma a permitir minha volta. Fiquei imaginando como seria voltar, mas naquele instante era eu e eu mesma e não podia ficar alimentando sonhos. Voltei rápido para o micro, sempre preocupada com minha bagagem composta de três mochilas que carregavam tudo de mais importante que eu podia ter.

Seguimos para a aduana boliviana, sempre subindo por cerca de uma hora e meia. São Pedro e as paisagens incríveis íam ficando para trás. Os chilenos do micro conversavam animados, parecia um grupo grande de amigos viajando juntos. Sem vontade de puxar papo, botei meu MP3 e fui escutando a trilha sonora da minha despedida: The Call, de Regina Spektor, e This Is Home, da banda Switchfoot.

A letra de The Call diz: "Você vai voltar, quando eu te chamar. Não precisa dizer adeus". E a de This Is Home: "Eu procurei por um lugar para mim. Agora eu o encontrei. Este é meu lar... Isto ainda não acabou. Nós somos um milagre e não estamos sozinhos".

El Punto representa mais que uma moradia temporária, representa a casa da nossa família, de brasileiros, espanhóis, vascos, chilenos, argentinos, paraguaios, alemães, franceses, venezuelanos, panamenhos. Meus irmãos e minha família para sempre.


Enquanto via o deserto sem fim do Atacama e escutava as músicas, ía lembrando os momentos incríveis e as pessoas especiais que fizeram parte da minha estadia no Chile. Não há palavras que definam o que foi tudo isso.

Bolívia nas alturas
A burocracia na boliviana foi mais rápida. Ao chegar peguei os papéis com o guia do agência e fui prá casinha da aduana rapidinho para não ficar muito atrás na fila. Os oficiais mal olhavam os papéis, carimbavam e passavam para o próximo.

Com os papéis carimbados, fui para o lugar onde estavam estacionados os quatro jeeps da agência. Tentei resgatar minha mochila grande que estava afogada em meio às outras bagagens e tudo o que consegui foi estourar um dos cabos, tão facilmente que parecia que estava podre. Puta la wea, chinguei. E com ajuda de outro brasileiro que estava no grupo, consegui abrir espaço para puxar o mochilão. Felizmente tinha fita silver tape e vedei o buraco do jeito que dava.

Dei por falta da mochilinha da Usach - parecia uma premonição - e fui encontrá-la ainda dentro da van. Quase que levam ela de volta a San Pedro porque estava camuflada com uma capa de chuva preta toda empoeirada. Tomei café com pão redondo chileno - aquele que parece um pão sírio - e queijo. Comi bastante sem nem me preocupar com a puna. Já eram 11 horas da manhã e pelo jeito o almoço não seria pontual.

Na aduana boliviana já ficaram três, pela puna, o mal da altitude. Eram justamente três brasileiros. Assim, seguimos em 25 mais os motoristas em quatro jeeps Toyota 4X4. E logo eu ía entender porque eram necessários os 4X4.

O grupo era formado por 16 chilenos, duas alemãs, duas holandesas, três ingleses, uma australiana e euzinha que sobrei de brasileña. A mim me tocou ficar em um jeep com mais cinco chilenos. Melhor assim, porque se eu fosse com os gringos, não ía ter muito o que conversar já que meu inglês se encontra um tanto enferrujado.

No meio do nada e sem estrada
No início do tour, a gente passa por lagunas e um geiser com piscinas de águas termais. Vai se passando uma sucessão de paisagens, uma mais incrível que a outra e estrada? Nenhuma. Se os motoristas não conhecem o trecho se perdem no meio do nada. Porque na maior parte do caminho nao tem ruta.

E tem trechos que eu sinceramente pensava que o nosso motorista, um boliviano muy buena onda chamado Agapi, estava equivocado em tentar passar. Mas, a gente seguia, ouvindo música boliviana de duas fitas cassete, que junto com outra de música anos oitenta eram as únicas disponíveis.

A primeira parada é na Laguna Blanca. Vejo as fotos que tirei e penso que realmente não fazem jus ao espetáculo que é aquele lugar. A laguna é branca por causa dos minérios que descem das montanhas e pelo gelo que se forma na superfície. Dá prá caminhar por sobre a laguna nos trechos congelados. Escorregadio, mas muito interessante ver o movimento de ondinhas congelado e com um pozinho do deserto grudaod na parte mais superficial do gelo.

Havia muito animais em volta do lago, flamingos, llamas, pássaros. Cliquei todos eles exaustivamente até ver que todos já estavam indo para os jeeps.

Muita gente foi sucumbindo à puna ao longo do primeiro dia e às cinco da tarde quando chegamos ao primeiro hostal, um alojamento em frente à laguna colorada, para almoçar e jantar em um intervalo de três horas (houve um ´pequeno´atraso no almoço), alguns preferiram dormir a comer.

Eu tava bem, minha puna foi toda no dia das Lagunas Altiplânicas e já estava acostumada à altitude, apesar de me faltar fôlego para dar dois passos. A primeira noite foi sem banho, não tinha água quente no hostal, e enfrentamos temperatura de -20 graus. Eu que não tinha saco de dormir, fiquei preocupada, mas aí os que não precisavam, me passaram seus cobertores, vesti toda a roupa de frio que tinha e fui dormir sem poder me mover, de tanta roupa, e com a respiração ofegante porque faltava ar até prá dormir.

Nos próximos posts, ponho as fotos que não estou conseguindo baixar nessa lan house e conto mais detalhes.

Nenhum comentário: