domingo, 12 de julho de 2009

Despedida 1

Ontem depois que voltei da apresentação com os amigos que foram me prestigiar, postei no blog e vi que tinha um recado de meu pai no MSN para telefonar para casa.

Já desconfiava que algo de errado passava porque minha cachorra, Nininha, uma das cinco que vivem na casa de meus pais em Imbituba, tinha ido ao veterinário na terça-feira devido a um sangramento no nariz somado a falta de apetite. Ela já estava medicada mas desde então eu não tinha mais notícias porque essa semana foi uma correria só.

Liguei em casa e minha mãe atendeu. "Mãe, o que é? Fala tudo", disse antes de qualquer coisa - eu já estava chorando. Nininha não reage em nada aos remédios, desde terça só vem piorando, não come, só pode tomar medicação na veia porque nada pára no estômago, não se levanta mais e os rins pararam de funcionar. É um tumor no fígado.

Ela chora quando não tem niguém perto e minha mãe passou a noite indo e vindo do quarto onde ela está, dentro de casa. "E os olhinhos?", perguntei, "o que dizem os olhinhos dela?".

Nunca me esqueço do olhar expressivo dos cães, eles dizem pelos olhos quando vão partir ou quando querem seguir lutando por sua vida. "Os olhinhos estão opacos, acho que ela não enxerga mais", disse minha mãe.

O veterinário disse que poderia abreviar seu sofrimento, se quiséssemos. Minha mãe queria saber se eu aceitava. "Que vou fazer?", disse, "Se ela piorou tão rápido, acho que não aguenta até minha volta". Normalmente sou contra o sacrifício, mas não me parece ter solução. Perguntei se não tinha uma cirurgia, algo assim, o veterinário acha que ela não aguentaria nem a transfusão de sangue necessária para operar.

Quis falar com ela, pedi prá minha mãe encostar o fone no ouvidinho dela só para escutar a minha voz, saber que não a deixei. Sem reação. Parece que ela já está perdendo a audição também. "Mãe, cuida prá que ela fique com alguma roupa que tenha meu cheiro, por favor", pedi chorando.

Ela me garantiu que estao fazendo de tudo, a levam todos os dias por três horas para tomar medicação intravenosa no veterinário. Ela está sempre quentinha, com cobertores, dentro de casa, mas parece que decidiu morrer sem me esperar. Se eu pudesse chegar a tempo, se não tivesse ainda compromissos acadêmicos, se não fosse tão longe...

Nininha vai se juntar ao Fritz e eu nem posso me despedir. Minha menininha que me fez perceber o quanto eu gostava de cães, quando me fez correr três dias e três noites pelas ruas de Botucatu, com um cartazinho na mão, procurando-a desesperada quando fugiu de casa e se perdeu. Nininha mudou minha vida e agora me sinto impotente aqui tão longe, sabendo que está partindo e que não vai me esperar.

Na minha lembrança fica seu olhar sapeca de quem pode a qualquer momento te dar uma mordida carinhosa no nariz, de quem se recusa a receber treinamento deitando no chão e se virando de barriga prá cima. Os abraços que eu dava nela quando a pegava no colo - ela sempre foi magrinha, tinha no máximo 25 quilos -, ou quando eu limpava suas orelhas e dentes e ela ficava quietinha, curtindo o mimo.

Meu dia ontem foi cheio de alegria, tristeza, melancolia, risos e choros. Emoções fortes e opostas. A alegria do palco, a tristeza de saber que minha menininha está indo, melancolia pela saudade antecipada que vou sentir de meus amigos aqui do El Punto.

Um comentário:

Maria disse...

Ela foi bem cuidada aqui e com certeza lembraremos dela pra sempre, Ju. SInto falta dela, do Fritz.. nesses dias que a gente para e pensa em todos bixinhos que tivemos e já se foram pro céu dos animais. Demorei pra aceitar, mas foi melhor pra ela assim.